Muitos católicos não têm uma noção correta do que
seja a devoção aos Santos da Igreja. Por isso, alguns pensam que são atribuídos
rótulos aos Santos, como se fossem mercadorias de consumo espiritual. Mas, não
é assim. Os santos são pessoas humanas que viveram neste mundo como verdadeiros
modelos de cristãos, seguindo o Evangelho de Cristo e colocando-o em prática em
suas vidas. Viveram conforme a vontade de Deus; por essa razão, conquistaram o
céu.
A Igreja, assistida pelo Espírito Santo, depois
de um rigoroso processo de beatificação e canonização – nos quais são exigidos
no mínimo dois milagres, confirmados pela medicina – declara, por intermédio do
Papa, que eles estão no céu gozando da comunhão com vida e da visão beatífica
do Senhor.
Muitas vezes, os católicos são acusados de
idolatria e de prestarem um culto indevido aos Santos, aos Anjos e à Virgem
Maria, bem como às suas imagens e relíquias. A intercessão dos Santos e sua
mediação por nós em nada substituem a ação única e essencial de Jesus; mas sim,
a valorizam ainda mais, pois dependem dela para ter eficácia.
Uma das orações Eucarísticas da Santa Missa diz
que “os Santos intercedem no Céu por nós diante de Deus, sem cessar”. Que
maravilha! Essa intercessão leva-nos mais a fundo no plano de Deus, porque
promove a glória de Deus e o louvor de Jesus Cristo, uma vez que os Santos são
“obras-primas” de Cristo, os quais nos levam, por suas preces e seus exemplos,
a reconhecer melhor a grandeza da nossa Redenção.
O culto aos Santos tem ao menos três sentidos profundos:
1 – Dar glória a Deus, de quem os Santos são obras-primas de sua
graça; pois são Santos pela graça de Deus;
2 – Suplicar-lhes a intercessão por nós e pela Igreja;
3– Mostrar que os Santos são modelos de vida a serem imitados, uma
vez que amaram e serviram a Deus perfeitamente.
Deus nunca proibiu ao povo fazer imagens dos
Santos, mas proibiu fazer “imagens de ídolos”. E isso a Igreja nunca fez.
Os Santos não são ídolos, nem são adorados, mas sim, venerados, o que é
completamente diferente. As imagens são um meio e não um fim em si.
Aristóteles, sábio filósofo grego, já dizia: “Nada está na mente que não tenha
passado pelos sentidos”. É que o homem em sua vida sensitiva depende das coisas
que o cercam. A visão de uma imagem desperta na alma pensamentos salutares, o
anseio de imitar o Santo de sua devoção, a se sacrificar por Jesus crucificado.
A tradição antiqüíssima da Igreja confirma a
grandeza dos Santos.
São Jerônimo (340-420), doutor da Igreja,
afirmou:
“Se os Apóstolos e mártires, enquanto estavam
em sua carne mortal, e ainda necessitados de cuidar de si, ainda podiam orar
pelos outros, muito mais agora que já receberam a coroa de suas vitórias e
triunfos. Moisés, um só homem, alcançou de Deus o perdão para 600 mil homens
armados; e Estevão, para seus perseguidores. Serão menos poderosos agora que
reinam com Cristo? São Paulo diz que com suas orações salvara a vida de 276
homens, que seguiam com ele no navio [naufrágio na ilha de Malta]. E depois de
sua morte, cessará sua boca e não pronunciará uma só palavra em favor daqueles
que no mundo, por seu intermédio, creram no Evangelho?” (Adv. Vigil. 6).
Santo Hilário de Poitiers (310-367), bispo e
doutor da Igreja, garantia que:
“Aos que fizeram tudo o que tiveram ao seu
alcance para permanecer fiéis, não lhes faltará nem a guarda dos anjos nem a
proteção dos Santos”.
São Cirilo de Jerusalém (315-386), bispo de
Jerusalém e doutor da Igreja, afirmava que:
“Comemoramos os que adormeceram no Senhor
antes de nós: Patriarcas, Profetas, Apóstolos e Mártires; para que Deus, por
sua intercessão e orações, se digne receber as nossas”.
A Igreja, com a autoridade que recebeu de Jesus,
declara Santos protetores das profissões, das cidades, dos países, contra as
enfermidades, etc.; e isso não é superstição nem se trata de rótulos vazios,
mas de verdadeiros intercessores diante de Deus pelos homens.
Ter devoção aos Santos é confiar nesta
intercessão diante de Deus, suplicando-Lhe a misericórdia para nós, pobres
pecadores. Santa Teresa d’Ávila recorria diariamente a seus Santos protetores:
São José, Santo Agostinho, entre outros. Todos os Santos, enquanto viveram na
terra, também suplicaram essa intercessão do céu. O que não podemos é prestar
um culto idolátrico ou supersticioso a eles, fazendo do seu culto algo meio
mágico para obter as graças. A devoção aos Santos exige um esforço do cristão
de viver uma vida de santidade, conforme a vontade de Deus, segundo o Evangelho
e o ensinamento da Igreja. Aí sim, tem sentido a devoção necessária a eles.
Essa devoção é um caminho de graça para Deus, e não um fim em si mesmo. Podemos
e devemos venerar as imagens e beijá-las com respeito, mas sem exagero e
ritualismo mágico.
Professor Felipe Aquino